terça-feira, 28 de agosto de 2012

Debruçada sobre um poço qualquer

    Algumas vezes já direcionei meus maiores sonhos para amuletos de sorte, os quais na verdade se tivessem alguma sorte seriam qualquer outra coisa, menos a esperança final aos olhos de um ser desesperado. Na maioria das vezes meu pedido era o mesmo; era um suspiro desacreditado de amor. Mesmo desacreditando, os inúmeros amuletos nos quais eu me prendia impediam o amor de me encontrar desacorrentada e pronta para segurá-lo.
    Por muito tempo, as estrelas cadentes guardaram muitos dos meus segredos  e desejos. Daqueles desejos que eu fazia com os olhos cheios de lágrimas, com o coração quase inexistente e a voz trêmula implorando aquele consentimento de amor. Sempre acreditei que elas pudessem fazer alguma coisa por mim, pedi coisas que até hoje não aconteceram. Pedi, repetidas vezes, que elas me presenteassem com o sorriso mais feliz que jamais existiu e que meus olhos se fizessem um deserto sem lágrimas.
    A verdade é que esse tal sorriso continua sem existir para mim e para o mundo. E, é claro, todo deserto já passou por uma inundação, nem que fosse apenas em uma miragem. Porque é só miragem que se tem quando o desespero toma conta da razão, apenas imagens disfarçadas de realidade. E a vida vira uma contemplação de mentiras, uma sucessão de faz-de-conta. E como miragem  vejo todos os meus sonhos se realizarem e eu completa de felicidade fora de mim, longe do meu corpo, observando de longe. Como quem admira a felicidade dos outros em um parque qualquer.
    Meu último suspiro pelo tal amor veio quando me vi debruçada sobre um poço qualquer de desejos. Neste instante, naquele silêncio diante do poço, da minha moeda e dos meus pensamentos, resolvi gritar por mim e me desapegar de toda sorte que estivesse por chegar e de todo amor que já existisse em mim. E diante de mim, da minha face refletida na vibrante água daquele poço, pensei em pedir amor, mas olhei para minha moeda e vi que eu precisava mais dela. Estive tanto tempo gritando por amor, amor, que esqueci do que realmente precisava. Hoje eu preciso de mim e preciso colecionar moedas, porque o amor pode esperar. Já esperei tanto por ele.
    Então dei as costas para o poço e para toda crença que prende minha felicidade em um desejo. Finalmente, dei as costas para o amor que sempre deu as costas para mim. Agora vou vê-lo sentir na pele o que é ter seu desejo negado e seu coração rejeitado. O amor para ver meu sorriso outra vez vai ter de chorar um rio de lágrimas. Vai precisar de muito mais do que apenas se fantasiar de amor, vai precisar se fantasiar de felicidade até se transformar em vida . Vai ser um completo carnaval. Vai precisar provar para mim que eu errei ao abrir mão da sorte e que eu vivi a sonegar o amor. Vai precisar me mostrar que sempre tive amor de mais, mas registrei o que o amor tinha de menos. E ele foi ficando cada vez mais com menos de mim.
    Estou me sentindo tão leve, embora essa descrença me leve a uma identidade que desconheço e sempre fugi. Mas hoje já acho muito bom fugir um pouco desse sentimento santificado por todos os mandamentos. Esse amor var ter de batalhar muito para poder me olhar de frente outra vez, porque eu aprendi que minha felicidade é livre de desejos e que dá sim para viver sem esse amor, que sempre esperei a sorte me trazer. Sorte minha ele nunca chegar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"E se Deus não dá"

"Deus dará, deus dará". Por esperar ainda algo de Deus é que começo com este verso de Partido Alto. Deus dará quando? Deus dará o quê? Não que eu só espere de Deus e nada faça, mesmo porque minha vida não andaria nem para trás se eu não fizesse algo por ela. Mas já estou cansando de ser sempre eu lutando por mim, lutando por vida, o Todo Poderoso podia me dar uma forcinha e diminuir um pouquinho as promessas. Não estou reclamando, longe de mim. É que já são muitos anos insistindo nos mesmos pedidos e seguindo com as mesmas armas da felicidade. Mas elas quase nunca apontam para mim, pelo menos não as que quero.


Nem eu sou capaz
de entender o que aconteceu comigo
Não sei quando me tornei
tão amarga, tão descrente
Tão desapegada de mim
Não sei quando me perdi
Não quero me lembrar por onde andei
nem das coisas que vivi
Não lembro quando me tornei tão só
Sem um cúmplice, um colo, um amigo
Tão só num espaço tão imenso
que faz eu me sentir cada vez
menor
Quando foi que os meus sonhos
se perderam de mim
ou quando que perdi as esperanças neles
Não sei... Sei que ando
tão confusa, desamparada
Ando tão triste, tão sozinha por aí
Sem um grito de guerra
Sem um silêncio de paz
Sem um Mosqueteiro por mim.

                    

                                    "eu já tô de saco cheio"

"Me explica com que cara eu vou sair"

Quando fico pronta
tranco logo a casa pra sair
Na rua vejo todos os seus movimentos
e me movimento ao seu redor
Parece uma dança
essa minha mania de tentar lhe encantar
Dos meus cabelos molhados
sai o cheiro de quando nos amamos
no chuveiro
Sei que você logo imagina
repetir esse amor
Como quem repete a sobremesa
Eu finjo nem ligar
Só aprecio a delícia que é o vento
secando meus cabelos
A sua cara de bobo me querendo
faz graça para toda rua
E todos os olhares sabem
que eu só posso ser sua.


                          Vamos voltar para casa,
                     meus cabelos já estão quase secos.

Eu queria querer-te amar o amor

Engraçado, mas em muitas situações da vida eu paro e imagino que elas não são reais, talvez porque eu não as queira como reais. E faço como quando num sonho ruim no qual se quer acordar e a gente força para que aquele tormento acabe. Forço repetidas vezes para me acordar da vida, porque ela não me serve para nada além de me fazer desejar sempre viver um sonho.


Queria acordar desse sonho
despertando em você
todos os sentimentos por mim
Queria que você me queresse
Querendo me ter completa
completanto todo o espaço em você
Queria dormir no seu colo
Dormir com você
ou ficar acordada ao seu lado
até o amanhecer
Queria que você me procurasse mais
e não pudesse mais viver sem mim
Que nossos dias voltassem a se cruzar
Que voltássemos a nos amar
em uma noite que não tivesse fim.