quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Encanto de olhar

"Quando te vi passar fiquei paralisado
Tremi até o chão como um terremoto no Japão
Um vento, um tufão
Uma batedeira sem botão
Foi assim viu
Me vi na sua mão"
                                                  (Pra sonhar - Marcelo Jeneci)

É mais ou menos isso que transmiti para esse poema, não sei se ele recebeu de mim todo o encanto que está petrificado no meu olhar desde o dia que encontrei o amor. Não sei se o poema fez questão de receber de mim o amor, se ele se apaixonou por mim à primeira vista ou se vai precisar que eu lhe dê atenção todos os dias, que o leia e o exalte como lindo, como santo, como amado. Mas o amor não é lindo, não é santo e às vezes nem amado. É meu poema não vai poder esperar amor de mim, a não ser que ele resolva se apaixonar por mim e que nós compartilhemos o amor que ele traz em si e que eu dei para ele. Mas não sei se acredito fielmente em amor à primeira vista, mas se não é amor não sei mais o que há de ser. Sei que quando chega não cessa de querer se mostrar, de querer me ver, me tomar. Mas isso pode não ser amor, mas esse não amor, faz o meu amor parecer tão pobre e tão fraco, porque o não amor consegue me dominar, me acalmar, me ter nos braços e até mesmo no coração. E eu que sempre procurei por amor, hoje estou me rendendo ao não amor, me vendendo por uma felicidade que não se compra. E o meu amor se transforma em não amor só para garantir ficar perto de você. Você não quer amar, não passou pela sua cabeça poder se apaixonar à primeira vista. Mas você já está apaixonado.

A primeira vez que vi você
me apaixonei
Amor à primeira vista
Quis te ver mais outras vezes
E toda vez que te via
o meu corpo tremia
meus olhos congelavam 
E ...
"Todo eu era olhos e coração"*
Os olhos em você
e o coração pulando
tentanto movimentar o seu
E eu torcia para você
não ouvir as batidas
Porque dentro de mim
era um Olodum em pleno fevereiro
E meu rosto parecia pintura
Meu sorriso mais aberto paralisado
E meu olhar mais focado apaixonado
Então, eu reparei em você
vi que o amor à primeira vista
também te pegou
E essa sua cara de bobo
me pega e me deixa boba de amor
E esses olhos puros te entregam
Confessam que você abre mão de tudo
para sorrir comigo ou de mim
Você está sempre sorrindo!
E eu não sei a quantas vistas
dura esse amor
Sorte minha eu ser sua
a gente não ficar só no olhar
Que o meu amor se estenda
E você entenda
Que eu não posso mais sem você
É por você minha felicidade sem motivo
É você o motivo de tanta felicidade
Até mesmo longe
até mesmo com raiva
Eu lembro dos seus olhos
e eles me roubam o sorriso
e a satisfação
De encontrar à primeira vista 
o amor dos meus dias.

*Narrador Bentinho no romance Dom Casmurro de Machado de Assis.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Todo eu era sentimento de paixão

Nunca escrevi algo desse tipo. Sempre são os poemas de sempre, falando de amor e distribuindo mel a todos os lados. Hoje resolvi ser um pouco menos romântica e muito mais realista, resolvi falar sobre o amor carnal que na medida em que vai sendo consumido vai se transformando em amor sentimental. Pode ser influência de algumas coisas que tenho lido e também que tenho visto na vida, mas isso pouco importa. Só importa que continuo a falar de amor sempre na esperança de um dia vê-lo chegar até mim e me tomar e me levar para ser inteiramente amada, carnal e sentimentalmente. Esperança de ser engolida, que o outro ingula todos os meus movimentos e todas as minhas palavras e que transforme essa mistura de mim na vida que ele sempre sonhou e quis viver. Que ele deseje também ser devorado por mim e que essa troca de alimento, alimente a razão que não me permita viver sem o amor do meu outro.Que eu não possa viver sem amor.


É pele, é corpo, é alma
É minha desilusão fora de casa
É você quem arromba minha porta
A qualquer hora para me ter
É imenso o meu desejo por você

Quero amor no seu amor
E a satisfação
No prazer mesmo com dor
sinto paixão
Suas mãos em volta do meu corpo
calam minha voz
Só com gemidos e respirações
E estamos sós
Depois do amor, bem cansado 
você descansa
Cai num sono bem profundo feito criança
E eu te olho satisfeita de amor

É pele, é corpo, é alma
É minha paixão dentro de casa
É você quem tem a chave da minha porta
E a qualquer hora entra para me ter
É imenso o meu amor por você.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Dia a dia lado a lado

   Faz dezoito dias que o conheci, mas parece que você sempre fez parte dos meus dias. Faz dezoito dias que não o vejo e parece que já faz tanto tempo. Há um tempo atrás, eu pensava que os dias estavam passando rápido demais. Mal o sol nascia e já era hora de me despedir dele e ir deitar minha cabeça no travesseiro para apressar sua volta. Mas os últimos dezoito dias demoraram um milênio para passar, tempo que fez meu coração se desmontar e se remontar para bater por você.
   Sinto que há, não sei em qual fio da vida, uma emenda que liga meu caminho ao seu. Sinto, não sei se com o coração ou com os pulmões, você entrar e sair da minha vida. O coração dispara, palpita, para, bate novamente e teimosas vezes por você, já meus pulmões não controlam minha respiração, e ofegante rastejo dentro de meus pensamentos e vontades, buscando o ar, soltar o ar, inspirar o ar novamente, só para garantir viver, só para garantir que em breve vou tornar a (vi)vê-lo.
   E você também sente todas essas mil loucuras e sonha, planeja, conta os dias para o dia do reencontro chegar logo. E tenta me esquecer um pouco só para não passar a impressão de que está muito interessado. Mas você está. Já nem consegue disfarçar no sorriso, no modo de se vestir, no jeito de andar. Sinto que nós dois fomos envolvidos pelo encanto da paixão e estamos em uma corda bamba à quinze metros de altura, qualquer vacilo pode ser fatal. Uma pisada em falso, um olhar distraído pode acabar com a magia alegre de se apaixonar.
   Mas, você e nem eu queremos isso. Queremos contar mais dezoito dias, mas que dessa vez sejam lado a lado. E você pode até enfim aceitar as pessoas o apontarem na rua só porque você anda a sorrir e a fazer planos. E você pode apontar o caminho que quer comigo, que eu nem vou querer saber do atalho.
   No fundo, eu quero mesmo é poder descartar essa saudade. Quero dezoito dias inteiros aos seu lado. Quero enjoar de jamais enjoar de estar com você. Quero um quarto com cimento nas portas e apenas uma janela virada para o sol, só para contar cada amanhecer com você e pela minha janela vai entrar toda luz que sempre esteve à nossa frente. E eu posso, às vezes, até fechar minha janela, só para perder a noção da hora, só para perder a noção dos dias e começar de novo a contar meus dezoito dias com você.
   Nem voz eu tenho mais para gritar por você, porque vivi a repetir nossa história aos quatro ventos e para toda gente. Sabe como essa gente é curiosa, querem saber de tudo, de todos os detalhes. E eu contava orgulhosa por estar me apaixonando ou já apaixonada talvez. E você precisava ver minha cara de boba ao falar daquele dia em que me pintei de vermelha de tão sem graça que fiquei por causa da sua presença e de suas palavras. O sorriso me rouba o rosto só de lembrar, só para levar meu rosto a você e garantir que nunca vai me esquecer.
   E não vai esquecer mesmo. Porque esse amor à primeira vista quer ser visto de novo e de novo e por todo o mundo, por todos os olhares. Quer ser amor a todas as vidas, a todos os tempos. Quer ser amor. Quer ser o meu amor correspondido e amado todas às vezes que eu o vir. E eu virei a amá-lo e viverei a desejá-lo só para fingir que é só para preservar a minha pose de moça desejada. Só para fingir que me contento com apenas dezoito dias com você, quando na verdade sempre estarei recontando os dias, sempre recontando os passos, para garantir que seus passos sempre andarão junto com os meus.