quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mais um dia comum

   Estava indo para a faculdade hoje como faço sempre. Peguei meu livro, um qualquer, que está sempre na minha bolsa para me aliviar em momentos em que me sinto sozinha.
   Entrei na van e com a fila que se formou atrás de mim, fui jogada para um banco do fundo. Livro no colo e os olhos desviavam vez ou outra. Sabe como é mulher né... Curiosa, repara em tudo e em todos o tempo todo. Numa dessas olhadas, vi um carinha da faculdade entrar. Distraído nos seus pensamentos e planejamentos não reparou em muita coisa à sua volta. Olhava para todos os lados tentando apressar o caminho da chegada ao seu ponto.
   No ponto seguinte, entra uma menina, também da faculdade. Com seu shortinho que tenta amenizar o calor e com sua blusa frente única que deixa à mostra as costas para todos olharem e desejarem, sentou-se ao lado dele e soltou os cabelos que estavam presos com os próprios cabelos.
   A cena foi digna de cinema americano. Fechei meu livro e não tirei mais os olhos daqueles movimentos vibrantes dos corpos que estavam à minha frente. Eu me senti integrada à alguns daqueles romances que tenho o costume de ler, nos quais o autor faz questão de contar detalhadamente uma cena tão simples que pelas palavras que a louvam, torna-se a top 5 das cenas mais desejadas.
   O carinha, que tentava apressar sua ida, ia aos poucos tentando retardar o tempo e o caminho para melhor conservar aquele momento. O vento forte, que entrava pela janela, jogava os longos cabelos claros dela sobre o ombro dele. E o olhar desviado para a janela via quanto aqueles cabelos se confundiam com os reflexos luminosos do sol. E o rapaz tentava sequestrar para si aqueles cabelos. Na esperança de sequestrar também os braços, as pernas, o sorriso e os sonhos e planos que aquele ser carregava. E eu até pude ver as cenas que se passavam na cabeça dele. Eu já estava lendo pensamentos, como se eu fosse o narrador onisciente daquele romance.
   E me aventurei em compor a história sem perceber que apenas eu reparara naquilo e que aqueles movimentos deles não passavam de frutos da minha imaginação. Talvez ele até estivesse incomodado com aqueles cabelos chicoteando seu ombro. Mas como eu resolvi criar essa história, a faço como achar que ela merece ser contada e eu deixei de ler minha antologia poética do Drummond para me ligar a esse romance . Então, ela vai continuar desse jeito.
   Alguns pontos mais a frente, todos descemos da van. Ela saiu na frente, ele atrás e eu era a última no caminho. Ela, abraçada aos livros, se desmanchava em sorrisos, enquanto o vento ainda apaixonado por ela sacudia seus cabelos. Ele ia atrás planejando como se aproximar, como tê-la novamente tão perto. Eu era uma detetive, seguia os dois atentamente.
   Alguns passos mais a frente, cada um seguiu um caminho e eu logo pensei que meu romance terminaria ali. Segui para meu almoço com a cabeça nos dois. Entre garfadas e goles, planejava como terminar meu romance. Parei de comer diversas vezes. Olhei para o chão, para o teto, para o ventilador girando, para o saleiro e olhei para frente. Descobri que eles pegaram caminhos distintos para me despistar, eles notaram que estavam sendo seguidos. Acho que não cou boa detetive! Fugiram de mim e mais a frente se encontraram de frente, em meio a sorrisos e declarações. Se beijaram e se desejaram naquele amor inventado.
   Terminei meu almoço. Peguei meu caderno, um que é cheio de flores, corações e chinelos na capa, e contei a história a meu modo. Pretendo publicar no blog ainda hoje, enquanto acho que a história vale a pena. Ah! Vou mandar o romance para ele, eu o conheço de  vista, mas vou ficar devendo a ela. Nunca a vi e nem lembro do rosto. Melhor, assim meu personagem principal pode completar a cena com quem ele achar melhor.

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